terça-feira, 24 de novembro de 2009

O caminhante


Eu estava procurando o melhor ângulo para fotografar a estação de trens de Rio Largo. Subi e desci da plataforma, andei nos trilhos, pulei a catraca, subi no muro e nada. Fiz várias fotos, mas tudo muito café com leite e pão com manteiga. A tarde já caminhando para a noite e “a” foto do dia nada de aparecer. E eu já tinha o meu pôr de sol. Queria outra coisa. Sem saber direito o que.
Quando o Celso chamou pra ir embora, voltei para a borda da plataforma e olhei para os trilhos. Lá vinha ele. Não. Ela. Minha fotografia. Se arrastando, lentamente, preguiçosa, aproveitando o calor do fim da tarde.
Veio nas costas de um senhor. Homem do povo, bolsa à tiracolo, boné, roupa surrada, pele curtida, corpo vergado. Parecia carregar o peso do mundo. Pesaria tanto assim a minha fotografia? Parecia tão velho quanto à estação. E opaco, e empoeirado, e silencioso, e sozinho.
O Celso adorou. Disse que foi a minha primeira fotografia com pinta de foto jornalística. Eu gostei, achei de um realismo poético (tentando não ser piegas), mas, sempre que a olho, me sinto triste.

Estamos caminhando em direção ao fim da linha. Agora só falta mais uma das quatro fotografias que ficaram comigo após o término do curso. Preciso recomeçar a caminhada. E tentar não ficar na linha...

Adriana Cirqueira 

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mercearia, ou como se diz no Pariconha, Bodega

Esta foi outra das quatro fotos escolhidas pelo Celso para nossa exposição. Nos próximos dias postarei as outras duas.
O diferencial desta está nas cores e no pitoresco de uma mercearia de subúrbio. Ela está na Maceió de 2002, mas poderia ser qualquer cidade do interior de 5o anos atrás.
A disposição das mercadorias, o conteúdo das prateleiras, o formato e a cor do armário e de seu conteúdo, a simetria da imagem: tudo isso colaborou para a formação de uma fotografia interessante.
O professor sempre dizia que, quando optassemos pelo filme em cores ao invés do preto e branco, valorizássemos ao máximo as cores ao fotografar.
Vou voltar a sair sem rumo com minha câmera na mão. Eu adorava fazer isso. Não sei porque parei. Por que a gente pára de fazer as coisas que ama com a desculpa esfarrapada da falta de tempo? Lorota. Quanto eu era adolescente, eu só tinha uma máquina automática antiga e sem flash (minha tia a tinha deixado na casa da minha avó muitos anos antes). Ela e meu diário nunca saíam da minha mochila. Eu sempre estava preparada para eternizar meus momentos. Nenhuma alegria escapava sem registro. Nenhum sentimento se perdia. Hoje, que tenho um equipamento infinitamente melhor, o deixo dentro da caixa, numa gaveta da bancada do computador... Mas até um terminar de postar estas minhas fotos do curso da Ufal, isso vai mudar. Ah vai!

Adriana Cirqueira 

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pôr de sol na Lagoa Mundaú

Fiz esta foto na primeira aula de fotografia em que saímos do campus. A turma era tão grande que cabia no carrinho velho do professor (não lembro que carro era, acho que velha estou eu). Estávamos nos preparando para voltar à UFAL. O professor já tinha recolhido as duas câmeras (dele) que usávamos. Não é moleza fazer jornalismo num departamento esquecido de uma federal sucateada. Comprávamos nossos filmes e pagávamos a revelação.
Não foi minha primeira nem a última foto de pôr-de-sol. O professor já havia nos dito que este é um dos mais famosos clichês. Mesmo assim esta foi uma das minhas fotografias que ele escolheu para a nossa exposição de final de curso.

Adriana Cirqueira 

A luz sob as sombras

O livro A Sombra do Vento do espanhol Carlos Ruiz Zafón é um tributo ao livro. Novo, antigo, clássico ou popular. O bom e velho livro: algo palpável, finito, mas capaz de encerrar muito mais que palavras. Sentimentos e mundos inteiros, como universos paralelos, aguardando, latentes, prontos a se expandir num hipnótico big bang ante um leitor desavisado. Nele encontramos o ápice do prazer da leitura como entretenimento, sem culpa. Nele compartilhamos o deleite de uma criança que descobre o prazer da leitura. Nele nos é oferecida uma visão peculiar da importância da preservação da cultura e do medo do obscurantismo, do esquecimento.

A trama se desenrola na cidade de Barcelona, na Espanha em plena ditadura franquista. A época sombria da história se reflete tanto no clima apresentado na narrativa quanto nos prédios e na personalidade de alguns personagens. O menino Daniel Sempère, órfão de mãe, no dia de seu aniversário, é levado pelo pai, dono de um pequeno alfarrábio, ao “Cemitério dos Livros esquecidos”. Numa espécie de rito de passagem, pelo qual ele mesmo já havia passado, em meio a corredores mal iluminados e centenas de estantes, ele é convidado pelo pai a escolher, entre incontáveis prateleiras e recantos, um livro. Um livro especial pois ele jamais poderia desfazer-se dele. Mas a maneira pela qual ele é atraído pelo livro indica que foi o livro que o escolheu e não o contrário. Sua fascinação pelo livro e por Julian Carax, seu misterioso autor, arrasta Daniel para um mundo de segredos, intrigas e mentiras. Essa busca aprisiona voluntariamente Daniel durante muito tempo.

O livro envolve o leitor desde o início. Zafón dosou romance, mistério, tragédia e humor de forma inteligente e cativante. Ele mistura a história de dois jovens (Daniel e Carax) em épocas diferentes - seus medos e sonhos, sentimentos e frustrações. Coincidências estratégicas entre os dois ampliam a aura sobrenatural do romance. É uma narrativa ágil, cheia de implicações e retornos. Com uma profusão de informações e evidências nem sempre verdadeiras, chegamos a duvidar de um arremate digno da saga. Um livro do tipo que não se consegue largar sem muito esforço. Daqueles que presenteamos a alguém para instigá-lo ao gosto pela leitura. A fascinação de Daniel por Carax contagia o leitor: o desejo em descobrir o que lhe acontecera, o motivo de todos os seus livros terem sido queimados e porque a morte rondava a todos que se infiltravam no misterioso passado de seu autor.

A Sombra do Vento
Carlos Ruiz Zafón
Romance 464 páginas
Tradução: Márcia Ribas
ISBN: 8573026049
Preço médio: R$38,00

Escrevi (na mesma tarde em que fiz a crônica) quando um grande amigo me falou sobre uma colocação temporária, para cobrir as férias de um dos repórteres de um caderno de cultura local. Não me ajudou a conseguir a vaga, mas foi a minha primeira (e única) resenha literária. Acho que vou tentar mais vezes para afinar o estilo e convercer melhor. ;-)

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Importância da leitura

A leitura é um hábito que pode ser adquirido. É um prazer conquistado com a prática. Ler não é apenas decifrar as palavras, é compreender o sentido das coisas e dar significado à realidade a partir do entendimento individual. A pessoa que lê, e entende o que lê, se torna uma pessoa melhor em vários aspectos. Um verdadeiro cidadão. Uma boa leitura abre caminhos para uma boa escrita, com a ampliação do repertório de palavras e idéias. Também aumenta a capacidade de concentração, a criatividade e a empatia.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua portuguesa enfatizam que :

A Leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a língua, características do gênero, do portador, do sistema de escrita, entre outros (BRASIL, 2001, v 2 p 53 )

Ler implica compreender: quanto mais uma pessoa lê, mais fácil será a próxima leitura. Existem estratégias de ensino e compreensão da leitura que precisam ser utilizadas no processo e, como ninguém nasce sabendo, pode e deve ser ensinado. Segundo Izabel Sole, em sua obra Estratégias de Leitura, alguns questionamentos devem ser feitos antes, durante e depois da leitura:

O que tenho de ler? Por que (e para) que tenho que lê-lo? Que sei sobre o conteúdo do texto? Que sei de conteúdos afins que possam ser úteis para mim? Que outras coisas sei que possam me ajudar: sobre o autor o gênero, o tipo de texto? Qual é a informação essencial proporcionada pelo texto e necessária para conseguir o meu objetivo de leitura? Que informações posso considerar pouco relevantes por sua redundância, se detalhe, por serem pouco pertinentes para o propósito que persigo? Esse texto tem sentido? As idéias expressadas têm coerência? Entende-se o que quer exprimir? Que dificuldades apresentam? Qual a idéia fundamental que extraio do capítulo/parágrafo? Posso reconstruir as idéias contidas nos principais pontos? Qual poderia ser final desse romance? O que sugeriria para resolver o problema exposto? Qual o significado desta palavra desconhecida? Que poderia acontecer com esse personagem ( Sole 1998 p 75-76)

Qualquer pessoa pode aprender a ler desta forma. Uma criança, dentro de suas limitações pode compreender um texto. Quando lemos, nos projetamos para dentro e para além do texto. A imaginação da criança é muito fértil e amplia essa projeção. Conforme ela vai crescendo, essa capacidade amadurece com ela. Podemos aprender em qualquer idade, mas esta capacidade de projeção será muito mais forte em que começa a ler (de maneira adequada) desde pequeno.
Marque uma visita e poderemos escolher os livros e traçar a melhor estratégia para o perfil do seu filho.

(escrevi pra ver se começo o meu projeto para iniciar crianças e adolescentes no mundo da leitura)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Amanhã

Esse negócio de ficar deixando as coisas para amanhã está me deixando pra ontem...
Tenho pelo menos vinte livros novos que comprei nos últimos meses e li apenas a sinopse. Assinei a Veja e quando termino uma já tem mais duas me esperando. A Tim me roubou cem reais e fiquei tão brava que não tomei nenhuma providência (já se foram quatro meses e nem liguei pra Anatel nem fui ao Procom). Fiz concurso para nível médio na Prefeitura só pra custear meus gastos na faculdade e após quatro anos de formada continuo marcando passo por lá. Quero um mestrado, mas não começo o projeto. Tenho piscina e academia no condomínio, nove lances de escadas no prédio e uma barriga flácida. Até a música da minha formatura foi Amanhã... Parece que está entranhado no meu subconsciente.
E agora veio o supremo babaca dizer que eu não tenho mais o meu “espaço reservado”. Eu, apesar de não usar frequentemente o meu, gostava muito de ter o direito de possuí-lo. Mas também fui deixando pra amanhã... E agora, deu no que deu.

P.S. : Odiei o jeitão do “espaço reservado”, mas resolvi deixá-lo aí mesmo pra servir de base pra outro escrito (se seguir o exemplo dos últimos dois, em julho de 2010...)

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