domingo, 8 de abril de 2012

Maravilhas de Alice

“Não criança, você não pode recortar esta fotografia de festa”. Meu álbum de casamento estava aberto sobre o bonito tapete de flores de lã, feito com muito carinho pela minha mãe quando Alice ainda era um bebê. Ao seu lado o caderno de desenho, diversas revistas e uma menininha de óculos cor-de-rosa, com uma tesoura na mão, observando com atenção alguma coisa na página: “Mamãe, eu queria comer um docinho desses aqui! Que pena que eu não estava lá! Bem que poderia existir uma passagem para o mundo da imaginação... ”.

Quanta criatividade! A liberdade do processo mental infantil é mesmo uma maravilha. O lúdico, a sinceridade e a simplicidade com que transformam a realidade é um mistério para a maioria da população dita adulta. Alice tem uma energia imensa. Por vezes esqueço que só tem cinco anos, principalmente quando me lança seu olhar petulante e ousado.

Tudo nela é intenso e, por diversas vezes, deixa seu interlocutor obnubilado. Nasceu em 30 de outubro e em novembro já pergunta sobre o próximo aniversário. Com ela não tenho nenhum tipo de saudosismo: vivo sua infância como se fosse a minha.

Sempre que estou com ela sinto uma emoção indescritível. Uma forte alegria, cheia de amor e respeito por aquela pessoinha tão especial. Quanto chego em casa ela grita e corre para me receber com um abraço. Pula e se larga, numa atitude de confiança extrema, sabendo que não vai cair ou se machucar.

E todos os dias ela tem alguma novidade: o jogo da socialização do recreio, o sexo da tartaruga, a nova música da aula de dança, o destino da nossa próxima viagem de férias. Outro dia ela fez a maior mobilização na escola por causa da Luiza, que é evangélica e não podia pular Carnaval com os outros coleguinhas.

Por causa dela sei que não estou neste mundo a turismo. Ela veio me ensinar o despego ao que não tem valor real, o olhar holístico do mundo, a importância da fraternidade e da harmonia no lar, a reprovação da rotina e do comodismo. Nada é consuetudinário. Não existe nenhum paradigma que não quebre por ela.

Ofereci uma cocada ao invés dos docinhos finos do casamento, já sabendo que ela não iria comer. Olhamos juntas as revistas e terminamos de recortar as figuras festivas. Ela quis me propor que eu escrevesse todas as legendas, mas contornei a situação: “Assim que você escrever tudinho, com letra cursiva, faremos um cineminha aqui no quarto e você escolhe o DVD”. Ela abriu um sorriso de derreter iceberg e gritou: “Oba! Veremos Barbie Moda e Magia”.

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Trabalho da Ufal. Cada aluno deveria produzir um texto de até 30 linhas utilizando 50 palavras escolhidas pela turma.

2 comentários:

Henrique Cirqueira Freire disse...

É verdade, meu amor, Alice tem uma vivacidade contagiante e nos impõe a responsabilidade de formar uma pessoa com potenciais múltiplos e fascinantes - tudo o que desejamos quando pensamos em um filho!
É profundamente empolgante participar desse espetáculo!
Beijos!

www.cosmonicar.blogspot.com disse...

Linda experiência, Adriana; não tenho filhos e nem sei se poderei -visto que pensado muito na realização, priorizando um outro nível. Mas sou também dos que acreditam que há algo mágico na experiência de acompanhar e contribuir para o despertar de um outro ser vivo, seja ele humano ou não.

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