A palavra “ética” provém do grego ethos e significa identidade, modo de ser, caráter, comportamento. De acordo com a Wikipédia, a definição mais atual seria "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas" e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas comuns.
Discutir ética é discutir identidade. As nossas atitudes diante da vida definem quem somos. Como ainda estamos vivos (graças à Deus), estamos em constante mutação e crescimento e vamos lapidando a nossa identidade enquanto amadurecemos. Recebemos contribuições da família, da escola, da igreja, dos amigos, dos livros que escolhemos ler e dos programas de televisão que assistimos. Nossas escolhas afetam a nós mesmos e aos mais próximos.
Quando a discussão é sobre ética profissional as coisas ficam mais complexas. O detentor de mandato eletivo, o administrador público, o médico, o professor, o jornalista: suas ações não afetam apenas a eles e aos seus.
Sem pretender “puxar a sardinha pro meu lado” - até porque neste caso seria bom estar bem longe dela – é no jornalismo que a falta de ética faz estragos mais rápida e profundamente que em qualquer outra atividade. E de uma forma perversa, pois mina uma das instituições que deveria servir ao aperfeiçoamento da democracia. Sim, a imprensa, que historicamente foi veículo de novas e libertárias idéias e ideais. Romanticamente vista como defensora da verdade e dos oprimidos e denunciadora de injustiças. Hoje, ela é um negócio. Um lucrativo negócio.
A aura heróica há muito se dissipou. Agora, jornalista é quem trabalha num jornal.
Isso é que é crise de identidade!!!
Se ainda é verdade que somos a epiderme da sociedade, estamos com hanseníase...
São vários os fatores que nos afundam nesta crise de identidade. Os mais evidentes são o medo (real) de demissão aos que não se adéquam ao “perfil” editorial da empresa e a mecânica da produção da notícia. A mercantilização da notícia está transformando muitos colegas em mercadorias. E tem pra todo gosto e com os mais variados preços.
É óbvio que precisamos urgentemente de momentos de reflexão. Encontros onde sejam discutidos com seriedade, baseados em princípios democráticos, sobre o papel e responsabilidade da nossa atividade profissional no tecido social, e sobre as relações de influência com outros campos , os dilemas morais que vivenciamos no desempenho da profissão. Compartilhá-las, visando estimular a capacidade de reflexão ética e a autocrítica.
O problema é que quando estas oportunidades nos são oferecidas, não as aproveitamos adequadamente. Os profissionais que comparecem a este tipo de debate, geralmente são sempre os mesmos, com uma ou outra exceção. A platéia normalmente é composta, em sua maioria, por estudantes. Os ainda querem ser jornalistas à moda antiga. Ou não.
Falando em estudantes, os cursos de jornalismo “pipocam” por toda parte e a cada semestre teremos mais profissionais para “trabalhar em jornal”. Segundo o Prof. Dr. Rogério Christofoletti, da UFSC, o ensino de jornalismo é pouco discutido e a formação ético-profissional do jornalista, menos ainda. De acordo com uma pesquisa* realizada por ele com professores de disciplinas relacionadas à ética nos cursos de jornalismo de 19 estados brasileiros, as principais competências que um jornalista precisa desenvolver são:
Criticidade e Distanciamento
Maior capacidade de julgamento
Postura proativa, socialmente responsável
Capacidade para refletir sobre o fazer jornalístico, com tomadas de decisão seguras
Discernimento entre interesse público de restritos a grupos
Superação do jornalismo factualista, visando a um reflexivo sobre a realidade
Capacidade de avaliação do cotidiano da profissão
Capacidade de tomar decisões sobre essas situações
Capacidade de refletir sobre as consequências das atitudes
Ser competente profissionalmente sem ferir a ética.
Percepção de que a defesa da ética é uma causa política
Consciência reflexiva para realizar questionamentos éticos
Capacidade para antecipar situações de potenciais conflitos
Consciência de cidadania
Sensibilidade social e Sensibilidade ambiental
Engajamento nas organizações da profissão
Domínio de conceitos jurídicos fundamentais ao jornalismo
Se já é difícil encontrar, simultaneamente, esta competência em jornalistas veteranos, imagine nos protótipos de comunicadores que saem da faculdade achando que serão artistas de televisão.
A ética pessoal e a profissional surge do compromisso de cada indivíduo. A ética profissional do jornalista se consolida na prática de um jornalismo que promova os interesses da sociedade garantindo o exercício da cidadania, colaborando para a formação crítica de seus leitores e cumprindo sua função política - que é a cada vez menos efetiva – no aperfeiçoamento da democracia.
Adriana Cirqueira
*Mais informações sobre a pesquisa podem ser encontradas através do endereço eletrônico: http://www.scribd.com/doc/30311642/Como-se-ensina-etica-jornalistica